Reflexões sobre a felicidade no trabalho


REFLEXÕES SOBRE A FELICIDADE NO TRABALHO

Frente a uma cultura marcada por contravalores, individualismo, comportamentos antiéticos, desrespeito à dignidade do ser humano e aos seus direitos fundamentais, atitudes do “querer levar vantagem em tudo” repercutindo nas Organizações como falta de filosofia, de missão, de visão de futuro e valores inconsistentes definindo formas anacrônicas de poder, gerando medo, estresse e infelicidade, é preciso rever com urgência o nosso comportamento.
Atravessamos  momentos decisivos na história humana, o planeta vive uma crise sem precedentes que nos obriga a mudar o nosso modo de vida, a nossa visão e entendimento das novas realidades que nos cercam. Ter sensibilidade para discernir com clareza esses novos tempos nos garantirá, mais do que a sobrevivência, a permanência bem sucedida em um mercado caracterizado muitas vezes por uma competitividade perversa.
Diante do futuro que se antecipa o ser humano não pode ser mais visto como mero instrumento de produção como se fora mais uma máquina a produzir. Respeitar a sua personalidade, integridade e dignidade e aproximar-se dele em atitude de diálogo, de amor, desafiando sim a energia que o impulsiona para o crescimento é torná-lo cada vez mais senhor de si e do mundo, com poder para formar, transformar e aperfeiçoar.
Chamados à vida, podemos nos considerar realmente humanos quando  somos capazes de sentir,de servir ao bem comum e de  dialogar e interagir com outros , sobretudo os diferentes de nós. Encontramo-nos neste mundo e neste tempo para experimentar radicalmente toda a riqueza e toda a complexidade do magnífico fenômeno da vida, que no seu dinamismo busca o desenvolvimento, a autoconsciência e a transcendência e transborda além dos limites que as circunstâncias nos impõem.
Felicidade. É essa a grande meta e anseio de todos os homens e mulheres de todos os tempos e de qualquer ponto do planeta. Busca-se de muitas maneiras e muitos não a encontram, porque ela não reside na riqueza, nem nas honras e tampouco nos prazeres efêmeros. Nenhuma dessas coisas representa a realização das capacidades humanas, que são infinitamente superiores a algo exterior e passageiro.
O que é então a felicidade? Artistas, poetas, filósofos de todos os tempos tentam conceituá-la.
Para Sócrates, a felicidade consiste na prática das virtudes e no seguimento da razão e Aristóteles a define como a plena realização das próprias capacidades. Partimos, então, do princípio de que para o ser humano ser realmente feliz é necessário que sejam satisfeitas todas as suas faculdades e que ele possa manifestar em todas as suas dimensões a riqueza de suas potencialidades.
Nesse sentido, alguns aspectos acerca do ser humano merecem ser destacados:
·         A autodeterminação – a vontade que o move e desperta nele o crescente desejo de conhecer mais e ser mais;
·         A liberdade de agir, sem constrangimentos, como senhor de si e poder decidir, com completo domínio da situação, sobre as coisas que lhe dizem respeito;
·         A afetividade, que tem uma importância fundamental no seu modo de ser, mas principalmente o amor, que é o compêndio de todas as virtudes;
·         A linguagem que o distingue de todos os outros animais, revelando a sua capacidade de dialogar e relacionar-se;
·         A sociabilidade que é a propensão para conviver e compartilhar as experiências, desejos, emoções e até os seus bens;
·         A cultura e a espiritualidade que fazem dele um ser aberto, criativo e voltado para um contínuo desejo de progresso e transcendência.

Considerando esses elementos, percebemos que somente como trabalhador o ser humano pode realizar todas as suas capacidades e no mundo do trabalho ser feliz. Pois é como homo faber que se manifesta, por excelência, sua vontade, sua liberdade, criatividade, seu poder de comunicação e interação com os seus semelhantes. Aliás, vale dizer, que não se pode ser feliz no trabalho e infeliz em outro lugar ou vice-versa, o ser humano é indivisível e como tal busca a sua plenitude em todo lugar.

Desse modo, o trabalho humano assume um valor cósmico, visto que através dele o ser humano plenifica o seu senhorio sobre o mundo – para transformá-lo e aperfeiçoá-lo – e por ele é capaz de se tornar mais humano, especialmente quando exerce com sabedoria e ética o seu poder, quando as virtudes, mais que a técnica, se tornam diferenciais em suas atividades.

Daí a importância de se desenvolver uma cultura organizacional que privilegie a felicidade de todos, o que significa, entre outros aspectos, tratar as pessoas como sujeitos e não como objetos, facilitar o desenvolvimento de suas potencialidades e torná-los protagonistas nos processos decisórios e não apenas coadjuvantes, o que implica em descentralizar, delegar, mudar hábitos e estruturas para que o ser humano seja respeitado e ele possa colocar toda a sua riqueza a serviço da bem comum.

As organizações precisam ser mais humanas. Os líderes precisam ser mais humanos. Humanizar as relações de trabalho e transformar a cultura das organizações é o maior desafio dos líderes nesses novos tempos.

É incontestável que o ser humano feliz representará para a organização substancial aumento de produtividade e de qualidade de produtos e serviços. Porque “a felicidade é um perfume que não podemos espargir sobre os outros, sem que caiam algumas gotas sobre nós mesmos” (Valdo Emerson). Trata-se, portanto, de uma questão de competitividade e do futuro da
empresa no mercado.

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