Há muito mais que a contagem do tempo por parte de Chronos - segundo os gregos - permitindo-nos constatar que estamos (quem sabe?) adquirindo mais sabedoria e experiência, ou, para quem preferir, que estamos envelhecendo...
Estes dias que passam (cada vez menores), muitos dos quais nem nos damos conta que já se foram, sinalizam para nós sobre o Kairós de cada dia... A palavra grega refere-se ao tempo especial de graças recebidas de Deus e quão intensamente temos vivido este tempo que nos foi destinado viver.
O que temos feito com o nosso tempo? Que valor e significado temos dado ao tempo de nossa vida? Passamos grande parte do tempo controlando, ou melhor, sendo controlado pelo Chronos que nos esquecemos do Kairós. Para este não há relógios, não há cronômetros. Para o Kairós só o coração, somente a alma capaz de acolher, de perceber e dar um sentido a cada tempo. E nesta dimensão do tempo também é preciso acionar o “kairômetro” para saber discernir entre o importante e o urgente, entre o que vale a pena investir o tempo e o que poderá ser considerado perda (irrecuperável).
São duas dimensões ou interpretações do mesmo tempo. Pode-se viver apenas sob a égide de Chronos – o que significa limitar a vida e reduzir o tempo aos ponteiros do relógio (se ainda usa relógio com ponteiros), aos afazeres do dia-a-dia – ou viver de acordo com o Kairós, aproveitando o tempo e usando-o com qualidade. Esta é a dimensão dos valores que carregamos. É uma questão de escolha: qual é o tempo que temos para nós, para a família, para amigos, para Deus, para estudos, para o trabalho, etc. Serão tempos medidos pelo cronômetro ou pelo “kairômetro”? O que faz sentido em nossa vida?
Creio que quando ficarmos mais atentos, mais despertos e conscientes, aprenderemos a dar significado a cada tempo – até para o “tempo ruim” – e assim descobriremos os “sinais dos tempos”, o kairós de Deus na história dos homens.
Desenvolver esta percepção, esta sensibilidade, requer auto-conhecimento, requer aprofundar os valores de vida, ter firmeza de propósito e abertura, assim acredito, para o Senhor dos Tempos. Então compreenderemos que, na verdade, há tempo para tudo debaixo dos céus, como diz a Sagrada Escritura e o tempo ganho será aquele para o qual demos um significado.
E na passagem do tempo e nos ritos de passagem que ora, mais uma vez se aproximam, é preciso reverenciar o tempo e curvar-se em ação da graças à Vida.
Agradecer pelo tempo que passou e nos enriqueceu com seus inúmeros ensinamentos e, de antemão, agradecer pelo tempo que virá, pois virá como kairós, como bênção. Gracias a la vida!
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